domingo, março 12, 2006

3. PRINCÍPIOS TEÓRICOS ORIENTADORES (da Didáctica e da Pedagogia)

O objectivo central das aulas de língua estrangeira é promover as condições que permitirão aos alunos aprender uma língua de que não são falantes nativos; e não podemos nunca esquecer que este é o seu principal objectivo. No entanto, enquanto disciplinas integradas no currículo do sistema de ensino português, as disciplinas de Inglês, Alemão, Português (e outras disciplinas de língua) devem seguir os princípios e as linhas definidas pelo Ministério da Educação. Consequentemente, devem também contribuir para a formação holística dos alunos, fomentando entre eles os valores humanos e a ideia de cidadania bem como expandindo os seus conhecimentos do mundo actual (e do passado, que o gerou).

Assim sendo, a metodologia de ensino/aprendizagem das línguas que aqui propomos funda-se nos princípios da abordagem comunicativa do ensino das línguas estrangeiras (cf. Widdowswon, 1983; Legutke e Thomas, 1991). Estes são aqui articulados com as linhas condutoras da aprendizagem por tarefas (“Task-based learning” – Nunan, 1993; Skehan, 1996), que enformam já hoje os Programas de Inglês do Ministério da Educação e que podem ser aplicado ao ensino/aprendizagem de outras línguas estrangeiras. Trata-se de uma metodologia que privilegia o desenvolvimento das competências linguísticas e comunicativas dos alunos, as quais são trabalhadas juntamente com os conhecimentos culturais e do funcionamento da língua. Acrescente-se que o método aqui proposto aposta na aprendizagem centrada no aluno e na procura de diferentes estratégias e de diferentes padrões de interacção na aula (trabalho de pares, de grupo, trabalhos de pesquisa, etc.), numa grande variedade de actividades que possibilitem a autonomia do trabalho do aluno (cf. Legutke e Thomas, 1991) e no recurso, sempre que possível, a meios das novas tecnologias de informação (TIC).

No que diz mais intimamente respeito ao foro da pedagogia, a nossa abordagem didáctica é fortemente marcada pelas ideias da Educação para a Cidadania (Crick, 1998; Pearce e Hallgarten, 2000; Guilherme, 2001). Acreditamos que esta área transversal do sistema de ensino português deve desempenhar um papel muito importante nas aulas de língua, sensibilizando os alunos para e levando-os a reflectir sobre os problemas dos direitos humanos, da injustiça social, das condições de vida das populações e de outras questões do mundo contemporâneo. Será este um contributo fundamental para se formarem cidadãos conscientes e com uma atitude construtiva na sociedade. Inicialmente, os fundamentos da Pedagogia Crítica (Freire, 1983; Giroux, 1997) marcavam a nossa abordagem didáctica. Mais tarde, encontrámos na Educação para a Cidadania os princípios, as soluções e o discurso que se adequava melhor aos nossos objectivos. A Pedagogia Crítica manteve-se, no entanto, como uma influência para o nosso projecto.

Com a Educação para a Cidadania se articulam de forma harmoniosa as propostas da Educação Intercultural (Cotrim, 1995; Woodrow et alia, 1997; Miranda, 2004). Esta está presente na nossa abordagem na medida em que se convocam para as aulas de língua factos, padrões e fenómenos culturais, vivências e obras artísticas (literárias, plásticas, musicais) de diferentes culturas, que são alvo de reflexão, análise e comparação. Acreditam os autores deste projecto que os conhecimentos e a compreensão da diferença de outras culturas e de outros modos de vida são uma importante mais-valia na formação de alunos conscientes e nutridos por um espírito humanitário, universalista e aberto. É esta também uma forma de se desenvolver o respeito, a compreensão e o respeito pelo Outro e pelo diferente.

De forma a poder atingir o conjunto de metas anteriormente definidas, as aulas de língua têm de ser espaços lectivos em que a aprendizagem do idioma se articula de forma pertinente e natural com a formação do indivíduo. Propõe-se, pois, que se explorem nas disciplinas de língua conteúdos didácticos (sociais, culturais e históricos) e materiais didácticos, que serão a base de trabalho de língua, de análise, reflexão e de outros tipos de resposta (elaboração de textos de diferentes tipos, debates, produção de cartazes, etc.) no idioma que está a ser leccionado. Desta forma se trabalham a Educação para a Cidadania e a Educação Intercultural. Já a utilização de materiais artísticos (reproduções de pinturas, de fotografia artística e outras peças das artes visuais, bem como excertos de música erudita e de obras literárias) – a par de e em ligação com materiais “não artísticos” (textos jornalísticos e informativos, exercícios gramaticais, etc.) – ao serviço da aprendizagem da língua e da formação do aluno dão conta da colaboração da Educação pela Arte na metodologia que aqui propomos.